terça-feira, 7 de agosto de 2012

Arrependimento nas relações casuais e nos relacionamentos de longo prazo: diferenças de gênero

Olá pessoal! Este é meu primeiro post no Blog, depois do convite do ilustre amigo Gabriel para me juntar ao time de entusiastas da Psicologia Evolucionista aqui presente. Da mesma forma que tem sido feito aqui no Blog, pretendo dar continuidade ao caráter leve e bem humorado (estilo #cqc #praçaenossa #zorratotal) de debater os mais diversos assuntos sob a ótica evolucionista.

Para iniciar, sabendo do meu interesse por relacionamentos claro, depois de ter levado tanto pé na bunda, resolvi escrever um pouco sobre os arrependimentos que homens e mulheres sentem nas suas relações casuais e nos relacionamentos de longo prazo, inclusive citando um estudo americano em que algumas características/atributos do(a) parceiro(a) também foram levantados.

Arrependemos-nos de muitas coisas em nossas vidas: de não ter visto um parente antes de sua morte (do parente, claro); de ter escolhido o curso errado na faculdade; de não ter feito tratamento para calvície (caso real); de ter se envolvido sexualmente com uma ninfomaníaca ainda não perdi as esperanças, etc. Estes arrependimentos vêm, geralmente, acompanhados de culpa, frustração, sentimento de impotência, raiva... E, aparentemente, estes arrependimentos pioram quando falamos em relacionamentos amorosos, devido à alta carga energética que investimos nas relações. Mas será que existem diferenças entre os arrependimentos de homens e mulheres no mundo ingrato do amor?

Este é um belo exemplo de arrependimento de ação e inação:
de ação por ter feito esse álbum e de inação por não ter ido
ao cabeleireiro antes dessa foto
Aparentemente: Sim. Estudos de Roese et al (2006) indicam que homens tendem a ter mais arrependimentos de inação (irei chamar de arrependimento de INAÇÃO aquele que a pessoa se arrepende de NÃO TER FEITO determinada coisa; enquanto que o arrependimento de AÇÃO é aquele que a pessoa se arrepende de TER FEITO determinada coisa) em relacionamentos de longo prazo do que arrependimentos de ação; enquanto que as mulheres tendem a ter os dois tipos de arrependimentos (de ação e inação).  


Já nos relacionamentos sexuais casuais, há diferenças mais extremas entre os arrependimentos de homens e mulheres: aqueles sentem mais arrependimentos de inação (arrependimento de não terem feito sexo com uma mulher), enquanto estas sentem mais arrependimentos de ação (por terem feito sexo com um homem). Os homens podem sentir mais arrependimento de não terem feito relação casual com uma mulher porque “essa é a função do homem” ou “não faço mais do que minha obrigação”, e se a mulher for bonita, ouve-se o “o que eu poderia fazer? Negar sexo pra aquela gata?”. Já para mulher, fazer sexo casual pode ser frustrante para sua reputação com outros homens; ou ainda fizeram sexo por serem mais frágeis fisicamente ou por terem caído no “conto do vigário”, causando arrependimentos.

Para tentar entender um pouco mais destes fenômenos, vamos beber um pouco da fonte das teorias de estratégias sexuais, que apontam diferenças entre homens e mulheres na escolha e manutenção de parceiros:

- Diferenças de gênero no investimento parental: Enquanto as mulheres ao longo da história evolucionária humana tiveram que suportar os bebês por 9 meses, alimentá-los e cuidá-los, para os homens coube o papel de “gozar” e, no máximo, sair em busca de recursos (como alimentos) para os “pequerruchos”;

- Diferenças de gênero na quantidade de parceiros sexuais: Para o homem ancestral ter múltiplas parceiras sexuais significava um grande sucesso reprodutivo, pois se fizesse sexo com 10 mulheres poderia significar 10 filhos num período de 9 meses, garantindo assim o aumento de sua prole. Já para a mulher ter 10 parceiros sexuais não significava um maior sucesso reprodutivo, pois por mais que fizesse sexo com todos os parceiros, sua prole continuava sendo de 1 filho em 9 meses. Ou seja, não há benefício algum em manter tantos parceiros, muito mais benéfico ter um (ou poucos), mas que possam contribuir na criação do filho;

Este é um belo filme para quem quiser conhecer mais
profundamente (rs) as estratégias sexuais do homem ancestral.
- Diferenças no desejo sexual: Pesquisadores como David P. Schmitt (e 188 colaboradores, 2003) procuraram conhecer as estratégias sexuais por meio de uma pesquisa com 16 mil pessoas (entre homens e mulheres) de 52 nações do planeta, representando os 6 continentes, incluindo 13 ilhas.  Este estudo indicou que os homens têm propensão a TER, BUSCAR, ou DESEJAR mais parceiros sexuais do que as mulheres. 

Aí podemos imaginar o porquê dos homens sentirem tanto arrependimento de inação quanto aos relacionamentos sexuais casuais... E as mulheres de terem arrependimentos de ação nos relacionamentos de curto prazo. O período fértil feminino é curto (hoje, até por volta dos 40 anos), então não se pode “perder tempo” com homens que buscam sexo e nada mais. Desde a invenção dos métodos contraceptivos, no entanto, a mulher tem mais liberdade para desfrutar o sexo casual sem ter uma gravidez indesejada. Sem este “ônus”, é provável que haja com o passar do tempo uma menor diferença entre os sexos no que tange o desejo por sexo casual.  

Eike Batista, no mundo ancestral, faria um enorme sucesso
 entre as mulheres devido aos recursos que ele poderia
disponibilizar (Eike: se ler isso me adote).
Para engrossar mais o caldo do mundo dos arrependimentos amorosos, Susan Coats et al (2012) verificaram com estudantes universitários quais eram as características dos parceiros com os quais tiveram arrependimentos de ação e inação. Confirmando as hipóteses iniciais do estudo, os homens se sentiram mais arrependidos tanto por terem quanto por não terem se envolvido com mulheres atraentes (arrependimento de ação e inação, seja em relacionamentos casuais ou de longo prazo). Em contraste, as mulheres tiveram arrependimentos de ação em relacionamentos de longo prazo com homens avarentos; nos arrependimentos de inação, citaram que os parceiros tinham bons recursos financeiros. Nos relacionamentos casuais, não houve uma característica peculiar do parceiro nos arrependimentos.

Estes dados sugerem que a herança de nossos ancestrais influi de alguma maneira sobre o comportamento da pessoa contemporânea, seja homem ou mulher. O homem ancestral que não se esforçou em copular com mulheres saudáveis e atraentes provavelmente não passou seus genes “pra frente”. Já mulheres que não se envolveram com homens com bons recursos, não conseguiram ter tanto sucesso reprodutivo. Ao contrário, mulheres que fizeram sexo casual com homens descompromissados provavelmente se arrependeram quando se viram sozinhas, cheias de filhos pra criar e sem suporte. 

Arrependimento, embora seja uma situação desagradável, tem uma função: motiva as pessoas a corrigir os erros de suas ações. Estes achados podem indicar a “adaptação do arrependimento”, que ajuda homens e mulheres a buscar/evitar potenciais parceiros de curto ou longo prazo, de acordo com quem é ou tenha sido reprodutivamente mais benéfico.


Para saber mais:

COATS, S.; HARRINGTON, J. T.; BEAUBOUEF, M.; LOCKE, H. Sex Differences in relantionships regret: the role of perceived mate characteristics. Evolutionary Psychology, v. 10, n. 3, p. 422-442, 2012.

ROESE, N. J.; PENNINGTON, G. L.; COLEMAN, J.; JANICKI, M.; LI, N. P.; KENRICK, D. T. Sex differences in regret: All for love or some for lust? Personality and Social Psychology Bulletin, v. 32, p. 770-780, 2006.

SCHIMITT, D. P ; et al. Universal sex differences in the desire for sexual variety: tests from 52 nations, 6 continents, and 13 islands. Journal of personality and social psychology, v. 85, n. 1, p. 85-104, 2003.