quarta-feira, 18 de julho de 2012

...mas eu me mordo de ciúmes!

Nos anos 80, um dos grandes hits da época era a música "Ciúme". Nela, a banda Ultraje a Rigor, além de praticamente descrever os principais comportamentos de alguém altamente ciumento, explora - com bom humor - a dificuldade enfrentada por um rapaz em adaptar-se às novas condições da época em que vive (mesmo com todo o incentivo que recebe de sua parceira afetiva).

Para aqueles que não estão lembrando qual é a música (ma oeee!), gostam dela ou, por incrível que pareça,
 ainda não conhecem-na, segue a versão acústica dela:


Pois bem... 
Essa necessidade em levar uma vida moderninha (como descreve a letra) é uma discussão recorrente em novelas, livros e filmes.

Babila Teixeira Marcos, de 24 anos.
Morta a facadas pelo marido. Segundo
familiares: "ele era muito ciumento".
Na literatura, "Otelo" (de William Shakespeare) e "Dom Casmurro" (de Machado de Assis), são duas obras clássicas que abordam o conteúdo do ciúme, explorando o mais tênue dos sentimentos inerentes a esta condição. 

Na vida real, cotidianamente ficamos sabendo de situações de ciúme, que vão desde uma leve insegurança até trágicos incidentes que veiculam pela mídia, sendo o mais recente,
o caso do esquartejamento do diretor executivo da Yoki.

Em maior ou menor proporção, TODOS nós experienciamos um certo ciúme. Para tanto o auto-controle torna-se quesito totalmente pertinente para que casos de pequenas inseguranças pessoais não se tornem um outro assunto em pauta nas páginas policias de jornais.

Por definição, podemos entender que o ciúme seria uma reação negativa ao envolvimento do seu parceiro com outra pessoa. Este envolvimento pode ser sexual ou afetivo, pode ser real ou imaginado


C
omo base nos levantamentos feitos acima, é possível observar como o ciúme é um assunto bastante atrelado ao sofrimento e pode contribuir para danos à própria espécie, sendo motivo desencadeador de rupturas amorosas e, até mesmo, de homicídios (como visto acima). No entanto, alguns especialistas no assunto, como o psicólogo evolucionista David Buss, por exemplo, apontam para a direção do ciúme ser uma característica importante para a nossa espécie, haja vista sua implicação no ambiente de adaptação evolutiva.


A LÓGICA EVOLUCIONISTA
Ao aplicar o raciocínio evolucionista, devemos nos lembrar que uma de suas lógicas repercute no indivíduo atuando de modo que favoreça a propagação de seus genes. 

R
eproduzir e investir na prole ofertando cuidados e demais subsídios para sua sobrevivência, são questões que demandam gastos energéticos aos cuidadores, no entanto, ela viabiliza que seus sucessores possam ter uma vida saudável e passe adiante os genes.


Destes gastos, os custos e benefícios passam a entrar em cena, favorecendo um investimento diferencial entre machos e fêmeas, predeterminando a maneira como tais irão se comportar um em relação ao outro.



IMPORTANTE: Investimentos nos filhos, necessidade de reproduzir-se e demais comportamentos que evoquem condições como estas, não implicam necessariamente em uma intencionalidade consciente. São expressões finais de um longo processo de seleção natural, que favorecem que um organismo se comporte de determinada maneira.

Ainda que cada espécie possua sua peculiaridade, em grande parte dos mamíferos a gestação é feminina.
Para ela, os custos biológicos na formação do filho refletem em demandas quanto a cuidados no período de gestação, haja vista algumas restrições proporcionadas por este momento.
No ambiente ancestral, força física e acúmulo de recursos
poderiam ser dados como características fundamentais de
um bom cuidador, haja vista seu vigor físico para a busca do
alimento e seus acúmulos para períodos de escassez.

No caso dos humanos
, as mulheres passam por um período de 9 meses de gestação, SENDO PASSÍVEL DE OCORRÊNCIA nos últimos 3 meses algumas condições como falta de ar, desconfortos, inchaços nas extremidades... Enfim, condições que demandam cuidado e atenção de outrem! 


Para tanto, em relacionamentos
a mulher tende a procurar um parceiro que potencialmente possa oferecer para ela, e posteriormente aos filhos, recursos e cuidados para a manutenção de uma vida saudável para todos.


Enquanto uma mulher só pode ter um ou dois (em casos extremos até seis, sete ou oito) filhos a cada 9 meses, um homem pode produzir muito mais que esta quantidade de filhos em apenas uma noite (difícil, mas possível)!

Deste modo, a preocupação masculina vincula-se mais à sua exibição e competição, no intento de cativar o maior número possível de garotas que possam passar seus genes adiante.


ENTRETANTO...


Criar filhos demandam custos, por isso, é compreensível que os cuidadores deem preferências para ofertar cuidados aos próprios filhos (questões como a adoção é um outro caso que pretendo debater em um outro post). Neste ponto, a mulher sempre terá 100% de certeza quanto sua maternidade... mas e o homem também?!?
Na obra "Dom Casmurro", Bentinho vive o sofrimento do ciúme,
e reforça a possibilidade de uma traição de Capitu (sua esposa)
ao observar aspectos do filho do casal, que teriam a ver com
Escobar, um grande amigo de Bentinho.

Pois é... esta incerteza quanto a paternidade é uma condição que assola a parte masculina. Deste modo, seu ciúme possui raízes sexuais, ou seja, teme que sua mulher tenha relações sexuais com outro parceiro
.


Em contrapartida, a parte feminina pode ficar insegura quanto as relações afetivas do seu parceiro, haja vista a possibilidade deste em optar por disponibilizar os recursos, que outrora eram dedicados a ela, para uma outra mulher (e por recursos entende-se não só materiais, mas também aspectos afetivos: carinho e atenção, por exemplo)!!!

Esta ponderação apresenta que homens e mulheres tendem a manifestar ciúmes sob diferentes condições. Pensando nisso, David Buss postula uma teoria que diferencia dois tipos diferentes de ciúmes:
o emocional (predominantemente feminino) e o sexual (predominantemente masculino).


Um post que se aprofunda mais nesse estudo
realizado por David Buss, pode ser encontrado
no blog 
Científica Mente (vale a pena conferir)


Para compreender isso melhor, Buss fez um levantamento com estudantes universitários, que demonstrou em seus resultados a predominância masculina de manifestação do ciúmes em situações de traição sexual, e a predominância feminina em sentir-se ameaçadas quando confrontadas com acontecimentos que remete seu parceiro envolvido emocionalmente com outra.


Este estudo foi replicado por diferentes pesquisadores em diferentes culturas, em que pode ser identificado uma influência cultural nas manifestações do ciúme, no entanto, as taxas de predominância mantinham-se como homens relatando mais ciúmes sexuais e mulheres apontando os ciúmes emocionais como elemento perturbador.

Por fim, constatar a influência cultural no ciúme, demonstra que ele está sujeito a aprendizagens e que não é uma condição imutável do nosso organismo. Temos sim a predisposição para... Não significa que devemos manter isso! Podemos aprender com ele, controlá-lo e modificar nosso modo de interpretar determinadas situações e adequar-se aos novos paradigmas que cada sociedade vive.






*Gostaria de agradecer a Helen Mezoni, pelas dicas na formulação do texto. Obrigado!

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Para esse post foram consultados textos dos livros:
"Fundamentos de Psicologia: Psicologia Evolucionista" (Organizado por: Emma Otta e Maria Emilia Yamamoto)

- "A paixão perigosa: por que o ciúme é tão necessário quanto o amor e o sexo" (Autor: David Buss)

7 comentários:

  1. Interessante observar o ciúme por tantos lados, e também as diferenças entre o ciúme masculino e feminino, mas sempre há exceções de pessoa pra pessoa não é?! HAHAHAHA
    Muito bom o post!!

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    1. Sim... sempre há exceções!!!
      Pois o ciúme também vai muito a partir das histórias de vida de cada um também! Ou seja, sofre influências do meio em que você vive...
      Digamos que todo mundo nasce com esse dispositivo e ao longo da vida vai se adaptando e lidando melhor com o assunto (ou agravando ainda mais)!

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  2. E aí Gabriel! Mais um belo post. Estudos (se não estou enganado, de Todd Shakelford e equipe) contestaram um pouco essa dicotomia "homem tem mais tendência ao ciúme sexual; mulher tende mais ao ciúme emocional". Contestaram pelo fato de que nessas pesquisas usam as possibilidades de respostas ESSA OU AQUELA. Uma pesquisa, também com universitários (cara, sério, não to a fim de procurar isso agora, qualquer coisa depois procure na net hahaha) utilizou as opções de resposta CIÚME SEXUAL, CIÚME EMOCIONAL ou AMBOS! Como resultado, encontraram respostas muito diferentes dos outros estudos: Homens e mulheres tenderam a responder que se sentiriam enciumados em ambas as situações. Não vamos desconsiderar os resultados das outras pesquisas, visto que realmente a há uma tendência a essa diferença de gênero, MASSSSSSS com muito cuidado.
    Mais uma vez, parabéns!
    Tiago

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    1. Com certeza, Tiago!
      Acho que sei de quais estudos está falando...
      ...o próprio David Buss, em resposta às críticas, fez modificações nos instrumentos que estava utilizando e ainda assim encontrou diferenças de gênero!

      É uma ótima discussão, Tiago!
      Para este post eu me pautei mais em David Buss e naquele livro da Emma Otta com a Maria Emilia Yamamoto, levando em consideração de que hoje é o que há mais sustentação. O que não descarta o fato de eu buscar dar uma olhada nesses estudos que mencionou para poder lançar um olhar mais crítico sobre o assunto!

      Obrigado, Tiago!!
      Abraços!

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  3. Cuidado com o ciúme feminino

    Já que enquanto o cérebro do homem é racional, o cérebro da mulher é emocional; mesmo quando se trataria de alguma mulher boazinha, meiga, ou compreensível, no quesito ciúme, até as boazinhas poderiam vir a se tornar malvadas, cruéis, ou vingativas...

    Uma vez que por instinto, e por sentimento de posse, mulheres alguma suporta que o seu parceiro olhe, fale, ajude, comente, ou toque em outra mulher, que não ela.
    Principalmente se a “concorrente” for jovem, for bonita, for solteira, ou for desinibida...

    Todos nós já sentimos ciúmes de alguém, pois o ciúme é uma resposta protetora, cognitiva, emocional e comportamental a qualquer fator externo que ameace um relacionamento a dois.
    As mulheres gostam de fantasiar que são inesquecíveis, e constatar que o outrora super apaixonado ex namorado já está noutro “capítulo” da sua vida de aventuras amorosas, mexe com a insegurança das mulheres.

    Embora o ciúme costume desencadear a inveja; para não confundir ciúme com inveja, lembre-se de que o ciúme é motivado por algo que se possui e que se tem medo de perder, enquanto a inveja é motivada por algo que não se possui, mas que se deseja possuir...

    o ciúme seja a manifestação da vigilância, enquanto a inveja é sentir ressentimento para com outra pessoa, porque essa pessoa é ou tem algo que você não é, ou que não tem...
    Ou mesmo desejar que o outro se de mal, e que perca aquilo que cobiçamos.


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